PAN-demônio

O Brasil está louco pelo PAN. Melhor dizendo, está enlouquecendo. Os herdeiros do Sr. Roberto "Kane" Marinho, balançam seu globo hipnótico e entoam o novo mantra: pan-pan-pan... pan-pan-pan. Repitam: “O Rio de Janeiro, continua lindo. O Rio de Janeiro continua sendo”...

Seria fabuloso se não fosse lamentável. Tanto riso, tanta alegria, são milhões de palhaços dentro e fora da televisão. Na novela da vida real os cariocas são forçados a entrar em cena, atuando como fantoches, balançando seus crachás na comédia dramática que se tornou o dia-a-dia com a chegada do Pan, e ainda mais com a iminência de uma Olimpíada. Zeus nos poupe.

Banalizar a violência, ignorar a corrupção. Vangloriar o esporte como se fosse mais importante que a educação. Vale tudo na conquista por pontos da audiência. Financiar bilhões para alavancar o turismo na Cidade Maravilhosa, sem investir nada para reestruturar a malha aérea é um jogo de cartas marcadas, onde quem perde é só o povo. Como sempre, muita salva e pouca saúde (Globo e Governo, tudo a ver). O meu discurso é enfadonho, repetitivo. Denigre minha Pátria, fere mais a mim do que possíveis leitores, mesmo assim não me calo, não me iludo. Ilusão de ótica é pintar o Rio de Janeiro, ilustrando apenas a burguesia correndo na orla, esbanjando beleza e alegria, como se todos morassem luxuosamente no Leblon. É muita tolice, é um deboche com nossa inteligência. Enquanto os favelados morrem de balas perdidas, os políticos imorais jogam confetes na sujeira. Os meios mudam o foco de suas objetivas do cenário decadente, passam a captar a gloriosa conquista dos atletas, devidamente patrocinados pelo dinheiro ecologicamente incorreto da Petrobrás. Pelas verbas ilícitas dos Correios. Pelos juros imorais cobrados pela Caixa anti-Econômica Federal ou pela grana colhida nas fraudulentas loterias brasileiras. E pelo nosso inocente Governo de "um país para todos", que na cara dura, tira nosso suado dinheiro para sair bem na foto.
"Estou ficando cego de tanto enxergar. Estou ficando surdo de tanto escutar."

Os Jogos Panamericanos se apresentam com todo o requinte e espetáculo carnavalesco tupiniquim, para que o mundo olhe o Brasil como o país do futuro, das maravilhas. Terra de gente bonita, samba, suor, cerveja, praia, férias o ano todo. Aqui é só felicidade meu povo! Pode vir! Quanto ao torcedor de ultima hora, aflito por descobrir quantas medalhas teremos, em esportes que sequer assistiu uma partida, tampouco conhece as regras, resta fechar as janelas e ligar a televisão. Isso mesmo! É só abrir a torneira e lavar as mãos da consciência, deixar a sujeira correr ralo a baixo. Simples assim! "Amanhã será um novo dia", no país do plin-plin.


P.s.: Queimarei a língua. Para não dizer que sou do contra, que não sou humana, assistirei ansiosa a disputa das cubanas contra as brasileiras na definição da medalha pan-americana do melhor volley-ball feminino. Afinal, sou brasileira, não desisto nunca.