"Lê e aprende.
Lê e torna-te Pó, lê e torna-te Ouro.
Lê e cala e torna-te Invisível no Mundo."
*Palavras iluminadas do reinado obscuro e intrigante de Lord of Erewhon.
No meu peito educado para ser catolaico, sempre bateu um coração pagão. Mesmo nascida num clã cristão, me sentia distante dos rituais sacrários. Durante as rezas contemplava absorta as imagens, as cores, as flores, as carecas, as auréolas, a expressão geral de tristeza e em especial os olhos de vidro dos santos. Olhares talhados para autocrítica, que pareciam saber da minha falsa devoção e presença forçada nos sermões dominicais, da mesma forma que faziam os outros presentes sentirem culpa de seus pecados.
Nunca me penitenciei por não me emocionar com a pregação decorada, por manter os olhos abertos de desconcentração e ver que alguns faziam o mesmo nos momentos de louvor. Tampouco castigo meus pensamentos ao lembrar que o ouvinte de minha primeira e única confissão, abandonou bata e assumiu os filhos pouco tempo depois. Vejo o fato mais como uma libertação, dele e minha.
Na verdade recordo de tudo isso com a mesma nostalgia do calor matutino do nordeste, no único dia da semana que não tinha aula e mesmo assim era obrigada a acordar cedo. E dos beliscões que minha mãezinha me aplicava carinhosamente para que me calasse durante a missa.
Numa terra de sincretismos, é possível ser batizado; freqüentar terreiros; acender velas coloridas; jogar flores no mar; praticar martírios; receber passes; acreditar que é possível comprar um pedaço do céu, caso não deseje a hospedaria gratuita no inferno; não crer em Deus e mesmo assim ter medo dele; freqüentar todas as igrejas e não pertencer a nenhuma.
Mesmo compartilhando a revolta pela Era das Trevas e a queima das bruxas, ser herdeira de maçom não implica nenhuma influencia milenar contra a Toda Poderosa. Analogamente a genética de uma carismática beata não transfere característica espiritual alguma. O conselho de uma tia-avó foi meu melhor catecismo, “pra falar com Deus, basta estar consigo”. “Se não há culpa não há castigo”.
Com a maturidade que penso ter alcançado, acredito que quando a paz falta, não seja por falta dos meus depósitos no Banco Vaticano. E sim, devido a distância que estabeleci em relação aos outros e a mim. Nas barreiras, nos muros e grades – internos e externos.
Se Deus é a vontade de estar feliz. A liberdade é sinônimo de proximidade divina. De pureza de alma. De respeito, consideração com os racionais ou não. Saber qual é o meu espaço e o do outro. Por tanto não há que existir uma seita mais perfeita do que outra, como cada um julga a sua. Há sim que haver o “aceita”. Aceita as diferenças. Aceita as opiniões. Aceita a si.
Cada pessoa tem a sua forma de manifestar a sua fé ou a sua descrença, até dentro de uma mesma religião. Então seria utópico tentar unir todos numa direção única. Mas é possível que cada um abra uma brecha, encontre um vão por onde canalizar as energias, para que as vibrações sejam em prol de todos e de si.
Um elixir que encontrei pra comungar com os espíritos mais elevados foi a leitura. Agradeço muitíssimo aos que me incentivaram a o sacrossanto ato literário. Só Bukowski salva!
Acreditei sempre mais nos santos do pau oco do que nos barrocos.
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