sannah kvist

um toc-toc me acorda. a man and a woman ainda rolava na suavidade de bono vox. dezessete e vinte e três nos ponteiros. era ele. ele que poderia ter unicamente uma boca apetitosa, soltando palavras gostosas de ouvir. não devia ter aquele mamilo moreno, com aqueles malditos pelos fazendo voltas hipnóticas, muito menos bater em minha porta sem camisa. eu, num esforço feminino de ter uma vida menos ordinária, lutando para o amor não me foder outra vez. vencida, me rendia pr’aquele sorriso lindo. mesmo tentando pensar que ele era mais um macho cheio de encantos, consciente da sua beleza e de como usá-la (alguns homens deviam ser apenas bonitos, ou somente interessantes, nunca as duas coisas). a tentação de olhar o peito só não era mais forte que o pensamento sacana de passear por ali. se havia em mim algum pedaço de carne adormecido, acordou para segurar meus instintos. já estava perdida no libidinoso espaço entre o queixo e o umbigo - miserável fraqueza. da porta convidei pro meu universo, embora para ele tenha dito apenas para entrar e ficar à vontade. esqueci os ciúmes das coisas, deixei que ele mexesse em meus livros, abrisse um e outro, tentasse um assunto comum olhando os vinis, antes de sentar. respondia cegamente afirmando cada uma de suas opiniões para não contrariar o cortejoso momento. de lado o perfil protuberante dançava convidando minhas mãos. se os corpos falam, o dele dizia coisas que o meu queria ouvir – talvez por isso sorríssemos insistentemente. "não me olhe assim" - eu gritava por dentro. nele algo murmurava “vem”. na tentativa de manter a calma, busquei qualquer pensamento para me tirar de casa. como? com ele tão perto, pegando com a mão todo meu raciocino. tão inofensivamente disposto ao meu olhar e se deixando assim. numa sacudida moral, desviei o assunto. então lembrou a que veio, pediu gelo emprestado e ofereceu o suco de manga que iria fazer. eu precisava dizer "não" – no meu território ainda tinha força para resistir. disse não, pro refresco. mas, aceitei o cinema mais tarde. exercitei meu racional num “até mais” olhado pro chão, se mirasse mais um pouco aqueles olhos não estaria contando. assim como não irei falar sobre o filme.

5 comentários:

Iasnara disse...

LB
concordo plenamente!
mas, sabe com são os librianos,
adoram avaliar as possibilidades.

Fabio disse...

Um arrocho de inveja, ciúme e raiva é o que eu sinto do tal! Não fosse pela beleza e excelência do texto, talvez eu nunca mais voltaria aqui!Para piorar, sonhei com você, numa espécie de filme, que a seu exemplo, não vou contar!
Liga pro tal sem camisa e pergunta se ele sonha com você? Eu sonho!

Iasnara disse...

Fábio
ai querido, preciso rir, desculpa.
Mas, quanto exagero! Lógico que pra vc faço sinopse do filme.

p.s.: não vou ligar, só chamar pela sacada. :D

impulsos disse...

Ui...
Até fiquei sem fôlego só de ler!

Interessantes e bonitos?
As duas coisas juntas?
É demais!!!

Beijo

Iasnara disse...

Impulsos
Jura? Eu tbm! :D

bjo