A Branca de Neve - Paula Figueiroa Rego
embora externalizasse uma natureza muito amena para qualquer atitude passional e nunca se revelasse agressiva. sua cena interna era dilacerante - lá voavam cabeças, fatos, desditos, ignorâncias, suas vísceras femininas possuíam a silenciosa fatalidade dos sabres e o tom vermelho escorria largamente nos veios de suas ânsias físicas e inquietudes etéreas. por fora porcelana sem pintura. ausência recente de vitamina dê. coração prisioneiro. falsa brancura. pupilas dilatadas de desejo sempre escondidas no olhar triste e apático. na mente o esperado desbragamento. o instinto solto nos sentidos, socorria. e só corria na imaginação. pura por pudor. na imposta condição da fé menina. carregava o perene dissabor dos órfãos do amor e já não relutava contra qualquer má sorte romanesca. há dias queria dizer, que sentia na morte caber alívio. principalmente se o morrer fosse do outro. não tinha covardia no sentimento. conseguia pensar num egoísmo – jamais praticado, em que o fim da vida parecesse tão confortável que ninguém dali retornasse - nem para lhe contar.
2 comentários:
Lindo!
Belíssimo! Texto e moldura!
Beijinho
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