A base de nossa inconsciência política

Nos idos dos anos setenta os jovens brasileiros sabiam bem o seu papel na construção do futuro, pois tinham a visão clara de sua participação nele. Não aceitaram a ditadura e enfrentaram as armas, com canções e flores, tamanho era o desejo de liberdade que inúmeras vidas que se perderam no caminho.
Na década de noventa um sentimento de semelhante civismo veio à tona, mais por mobilização da “mídia mãe”, do que por ideais políticos, levando os jovens a pintarem a cara para desmascarar a corrupção – a mesma que hoje apreciamos a olhos nus sem grande incômodo e até um tanto familiarizados, como se corrupção e política fossem ingredientes do mesmo pacote.
Ao contrário do impedimento de outrora, a punição de agora é um esquecimento prévio, iniciativa dos próprios políticos, que usam a técnica para abafar o caso em que estão envolvidos, até a eleição seguinte, quando retomam suas atividades. Enquanto alguns canais de televisão traduzem suas visões do cenário para induzir a percepção dos cidadãos – levando-os em suas opiniões. Outros tantos, fazem pouco caso, por saberem que os próprios meios fazem política em favor próprio, ou seja, vendem as almas pelas concessões públicas dos canais televisivos. E têm claro que, as mesmas bocas que gritaram o “fora Collor” eram mudas nos desmandos da ditadura.
Numa sociedade onde política e informação não andam juntas, a sociedade sai perdendo. Não fosse apenas a parca memória do brasileiro, os meios que são o nosso “Quarto Poder”, segue o mesmo rumo dos políticos, colocando em primeiro lugar os interesses particulares, agendando as notícias da maneira que couber as necessidades próprias.
De resto toda a sujeira encontrada de baixo dos tapetes do Planalto não é segredo para ninguém, o povo em seu critério de votação, afirma que é preferível votar em um político que roube, mas, faça algo, do que naqueles que apenas roubam descaradamente. As atitudes ilícitas são acessórios de fábrica, para a grande maioria que se elege. Talvez por isso, o papel dos meios tradicionais se torne obsoleto, a exemplo de noticia repetitiva como a instauração de mais uma CPI, que no fundo serve mais como tapa buracos, para rupturas mais profundas que a sociedade nem tem como apurar. A população sabe que alguns veículos espalham a sujeira não por crédito ao povo, mas, sim por para cobrir favores de outros possíveis maiores culpados, criando o espetáculo gerador de audiência e alienador dos fatos. Com afirmações assim, sobram poucos inocentes nos meios ou na política, não é certo generalizar, mas é evidente a maioria com atividades suspeitas.
Em meio a tudo isso o jovem de hoje tem a cara pálida, por falta de lugar ao sol, pois não herdou dos pais o comportamento de saber o que quer nem a que veio, desconhece sua cidadania e as regras do jogo democrático. E por saber apenas das obrigações se sente na dívida quando recebe os direitos, ignorando as necessidades primordiais por favores de desejos momentâneos e superficiais. Mal sabem, mas, vendem-se, não ao seu voto. Questionar o interesse e participação dos jovens na política de hoje, reflete uma despreparada consciência social, fruto dos que dela se beneficiam. Semelhante despreparo só existe no próprio governo, seja nas nomeações familiares, seja na escolha descabida de representantes que nem sem importam com filosofia partidária, tampouco com a essência da verdadeira política.

Nenhum comentário: