A lei do mais fraco

Em 1981 o Brasil conheceu a história de Pixote que foi abandonado por seus pais e roubava para viver, internado em vários reformatórios conviveu com todo o tipo de criminosos e delinqüentes. Aos onze anos de idade era traficante, cafetão e assassino. O argentino Hector Babenco transportava para tela a "Infância dos Mortos" de José Louzeiro, romance publicado em 1977. Eu não recordo qual reação que a população manifestou na época de lançamento do filme, tinha quatro anos. Mas presenciei ontem a falsa revolta a partir de uma matéria veiculada no presunçoso “show da vida”. O que me surpreende de verdade é o desconhecimento ou a pouca memória de todos. Afinal o roteiro já é velho conhecido dos brasileiros: meninos de rua, sem família, sem estudo e sem perspectiva de uma vida mais digna. Crianças que têm a infância obscurecida pelo mundo dos entorpecentes e do crime. Vivendo mercê da sorte. Não freqüentam escola, mas que as ruas se incubem de ensinar as lições: tudo o que diz respeito à marginalidade, à violência, à indiferença, o imaginário e a realidade de uma vida baseada no banditismo, nas drogas e na falta de expectativas. Meninos que desconhecem onde vão dormir ou o que comer, mas que aprendem o que fazer para resolver o problema. E que em algum momento até sonham em mudar de vida, mas os sonhos acabam se convertendo em esperança de se tornar conhecido no mundo do crime. A rua não é o único ponto em comum entre eles; o destino cruel dita as regras: luta contra a polícia ou associação a ela, transações com os traficantes, quem matará ou quem vai morrer. Pra dizer que não falei de flores, ops, de música, no mesmo ano Chico, gravou “O Meu Guri”, tema também adequado aos nossos dias: “Quando, seu moço, nasceu meu rebento. Não era o momento dele rebentar. Já foi nascendo com cara de fome. E eu não tinha nem nome pra lhe dar. Como fui levando, não sei lhe explicar. Fui assim levando ele a me levar. E na sua meninice ele um dia me disse. Que chegava lá... E ele chega. Chega suado e veloz do batente. E traz sempre um presente pra me encabular. Tanta corrente de ouro, seu moço! Que haja pescoço pra enfiar. Me trouxe uma bolsa já com tudo dentro. Chave, caderneta, terço e patuá, um lenço e uma penca de documentos, pra finalmente eu me identificar.... E ele chega. Chega no morro com o carregamento pulseira, cimento, relógio, pneu, gravador. Rezo até ele chegar cá no alto. Essa onda de assaltos tá um horror. Eu consolo ele, ele me consola. Boto ele no colo pra ele me ninar. De repente acordo, olho pro lado. E o danado já foi trabalhar... E ele chega, chega estampado, manchete, retrato, com venda nos olhos, legenda e as iniciais. Eu não entendo essa gente, seu moço? Fazendo alvoroço demais o guri no mato, acho que tá rindo. Acho que tá lindo de papo pro ar. Desde o começo, eu não disse, seu moço. Ele disse que chegava lá Olha aí, olha aí. Olha aí, ai o meu guri, olha aí. Olha aí, é o meu guri ...
As pobres criaturas exibidas ontem não foram nenhum furo do tedioso Fantástico, são os herdeiros da anunciada geração perdida, fato demasiadamente conhecido. No mesmo momento em exibição no Provocações um índice nada surpreendente foi divulgado, em um levantamento realizado entre 95 países para avaliação do aprendizado de alunos do ensino fundamental em 2005. Onde os melhores alunos brasileiros - os que alcançaram as melhores médias, ficaram após as piores médias individuais no geral. E o Brasil conquistou o 95° lugar. Palmas, por favor! Ordem e progresso. Eternas dúvidas: A culpa é de quem? Quem tem interesse em manter essa terra miserável? Quem são os verdadeiros bandidos? Até quando venderão as nossas almas?

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